Cintia Amorim
Quando o decreto foi anunciado no reino houve
uma tremenda confusão. As pessoas ficaram desesperadas. Ninguém tinha o costume
de perguntar nada. Ninguém tinha a menor curiosidade.
-
Mas o que eu vou perguntar? – perguntou uma senhora.
-
Mas como deve ser esse questionário? – preocupou-se o comerciante.
-
As perguntas devem ser longas ou curtas? – interessou-se a professora.
Foi
um tremendo reboliço. Só se via na cidade pessoas com papel na mão. Gente
olhando para o céu e tentando imaginar algo para perguntar ao rei. O reino
inteiro começou a sofrer de dor de cabeça. As filas dos hospitais triplicaram.
Todo mundo queria tomar remédio para cefaléia.
E
o prazo expirou. O rei mandou seus oficiais recolherem os questionários do
povo. Uma tremenda decepção. Em meio a toda aquela gente, só havia três
perguntas, de três pessoas diferentes:
- Mas o que eu vou perguntar? – era
a pergunta de uma senhora.
-
Mas como deve ser esse questionário? – era a pergunta de um comerciante.
-
As perguntas devem ser longas ou curtas? – era a pergunta de uma professora.
O
rei ficou novamente furioso. Mandou construir um enorme presídio. Iria colocar
todo mundo na prisão. A notícia espalhou-se entre a população. O povo ficou
desesperado:
-
Mas, espera aí, como é que o rei tem dinheiro para construir uma cadeia tão
grande e não tem dinheiro para aumentar o hospital?
-
E se todo mundo for preso, quem é que vai servir ao rei? Será que ele sabe
fazer alguma coisa sozinho?
-
E se um reino inimigo atacar, quem é que vai defender Vossa majestade?
-
Quem é que vai plantar, quem é que vai ordenhar as vacas para o rei tomar o
leitinho dele de manhã?
A
população começou a se revoltar contra o decreto real. Não admitiam tamanha
tirania. O rei não podia, simplesmente, mandar todo mundo para o xilindró. O
povo se reuniu em frente ao palácio. Organizaram um protesto. Elegeram um
representante. Pediram uma audiência pública com Salominho.
O
rei compareceu prontamente. O representante fez a primeira pergunta:
-
Mas o que é isso, majestade, vossa alteza perdeu o juízo? Como é que pode
querer prender toda a população?
-
Vou prender todo mundo sim. Vai todo mundo para o xadrez. Vocês não obedeceram
ao decreto real. Pagarão com a liberdade.
-
E quem é que vai construir esse megapresídio? – perguntou o representante.
-
Vocês, ora bolas. Vocês construirão o presídio, depois vão para dentro dele.
-
Mas isso é um absurdo. O senhor não tem consciência? E como eu vou cuidar dos
meus três filhos? – revoltou-se um camponês.
-
Deixei de saber, o problema é de vocês. Eu só sei que pedi a vocês que
pensassem em cinco perguntas. Ninguém pensou, agora vão ter tempo de sobra para
exercitar o cérebro atrás das grades.
A
multidão ficou inconformada. Logo, uma enxurrada de perguntas caiu sobre o rei.
As pessoas queriam saber com que dinheiro iriam construir o presídio. Onde é
que seria construído. Perguntaram sobre o risco de guerras.
O
rei começou a ficar satisfeito. Tinha agora um monte de perguntas para
responder. Acalmou o povo:
-
Está vendo, não é tão difícil assim fazer perguntas. Vejam, eu já anotei umas
cinqüenta em meu caderno real. Farei um acordo com vocês. Darei um indulto.
Vocês terão mais um mês para apresentar as perguntas que requeri. Agora quero
que pensem de verdade, se esforcem. Quero cinco perguntas originais de cada
habitante. Prestem atenção, mais um mês, senão mando todo mundo para a prisão.
Salominho
então convocou todos os professores do reino. Eles tinham o prazo de um mês
para estimular o povo a fazer perguntas.
- Preciso da ajuda de vocês. Quero
que me ajudem a estimular o povo a fazer perguntas.
Foi uma revolução. Na escola, ao
invés de os alunos responderem a enormes questionários, eles foram estimulados
a elaborar questionários. Tinham de pensar muito. Colocar o cérebro para
funcionar.
- Nossa, professora, às vezes
perguntar é mais difícil que responder. – questionou uma aluna.
- Realmente. É mais fácil responder
um monte de perguntas bobas, dentro de um texto, que elaborar nossas próprias
perguntas, com nossas próprias palavras. – completou outro.
Aos poucos, a dor de cabeça do povo
foi passando. O cérebro começou a se acostumar com o trabalho.
Findo o prazo de um mês, a maior
parte da população deu conta de fazer cinco perguntas ao rei, que teve muito
trabalho, porém, muito prazer em respondê-las. Àquelas perguntas que ele não
tinha resposta imediata, o rei pediu um prazo maior para responder. Convocou
seus sábios conselheiros. Pediu ajuda.
E assim, no reino do rei Salominho,
as pessoas criaram o hábito de perguntar, de questionar, de ter curiosidade.
Foi uma tremenda revolução.
Bem, eu comecei dizendo que essa é
uma história triste. E é mesmo. Quer saber por quê? Pense um pouquinho. Se não
conseguir achar respostas, elabore uma pergunta e envie-me, terei o maior
prazer em te responder.
FIM
Bom dia Rute
ResponderExcluirFantástico texto!!
Bom Domingo, beijo
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Amei a história contada, parabéns Cintia
ResponderExcluirBoa tarde Rute.
ResponderExcluirUma bela historia de Cíntia. Uma linda semana as duas. Abraços.
Gostei de ler este belo texto.
ResponderExcluirUm abraço e bom Domingo.
Um texto gostoso de se ler Rute ! A curiosidade nos leva a descobrir coisas, e a desvendar nos mesmo ... Deixo um super beijo e desejo uma ótima semana !
ResponderExcluirMuito bom o texto Rute!!! Amei!!!
ResponderExcluirBeijos e beijos
http://simplesmentelilly.blogspot.com.br/
Muito boa a história. Então posso fazer a pergunta aonde ?
ResponderExcluirSuper beijos.