O Rei que não respondia perguntas-Cintia Amorim
Esta é uma história triste. É a
história de um rei que não respondia perguntas. Não que ele não soubesse
respondê-las, muito ao contrário, o rei era inteligentíssimo. O problema é que em
seu reino ninguém perguntava nada. Absolutamente nada. Ninguém tinha
curiosidade ou interesse em aprender coisas novas.
A
história começa assim: rei Salominho, quando criança, padecera de grave enfermidade.
Ele ficara muito fraco e sua vida estivera por um fio. Durante seu tratamento,
os médicos aconselharam seus pais a não deixá-lo sair de seu quarto. Qualquer
contaminação poderia ser fatal.
O
menino, então, cresceu entre quatro paredes. E sua maior diversão era a
leitura. Ele lia de tudo, de dicionário a enciclopédias, de poesias a anúncios
de supermercados. Salominho era um leitor voraz.
Depois
de muito tempo, quando já estava adulto, finalmente sarara de sua enfermidade.
Ele estava livre para sair e conhecer o mundo. Mas seus pais, sempre muito
zelosos e temerosos, impediam-no de sair. Não queriam correr qualquer risco.
Salominho,
então, ficava da janela do palácio contemplando o extenso reinado. Tudo aquilo,
um dia, estaria sob seu controle.
Certa
vez houve um sério acidente. Os pais de Salominho, ao retornarem de um encontro
diplomático com reis de reinos próximos, caíram em um precipício. O cavalo que
puxava a carruagem assustou-se com uma tartaruga que passeava distraidamente
pelo caminho. O cavalo saiu em disparada e caiu, com carruagem e tudo, pelo
desfiladeiro.
Salominho,
ao saber da trágica morte de seus pais ficou muito triste. Agora teria de
assumir a responsabilidade por tudo. Herdara o reino.
A
primeira providência do rei foi conhecer seu reinado. Chamou os sábios
conselheiros reais e pediu que lhe falassem sobre cada detalhe do reino: a
economia, os costumes do povo, as festas religiosas, os principais problemas,
etc.
Depois
de ser brilhantemente instruído, Salominho foi ver de perto tudo aquilo que
aprendera. Foi conferir a teoria na prática.
O
rei ficou encantado, era a primeira vez que tinha contato com o povo. Achou interessante a vida da população.
Admirou-se com algumas obras públicas, mas também conferiu de perto alguns
problemas. Havia muitas carências.
Salominho
novamente trancafiou-se no palácio, mas desta vez para organizar um grande
projeto. Queria saber o que a população pensava, quais eram suas principais
necessidades, quais as suas dúvidas.
O
rei elaborou um excelente questionário. Havia trinta perguntas para serem
respondidas pela população. E no final, um espaço para a população perguntar o
que quisesse. Seria a vez de o rei
responder.
O
questionário foi entregue e, depois de dois meses, os oficiais do rei trouxeram
as respostas. Salominho ficou muito satisfeito, montou uma equipe excelente e
começou a analisar os documentos.
Quase
todas as perguntas haviam sido respondidas pela maior parte da população. Mas
um fato estranho intrigou Salominho. Não havia dúvidas, melhor dizendo, ninguém
perguntou nada ao rei.
Salominho
ficou incomodado. Chamou os oficiais que haviam aplicado o questionário ao
povo. Brigou com eles. Acusou-os de terem trabalhado mal.
Os
oficiais defenderam-se. Disseram que haviam sim, aplicado o teste como haviam
sido instruídos. O fato era que o povo não tinha nada para perguntar. Não
tinham dúvidas.
Salominho
não acreditou. Mandou que o questionário fosse reaplicado.
-
Somente a parte das dúvidas do povo. Quero saber o que meu povo tem a me
perguntar. – orientou.
Passado
mais um mês, eis o resultado. Não havia dúvidas. Ninguém queria saber nada.
BUSCANDO RESPOSTAS
É claro que o rei ficou perturbado
com aquela situação.
-
Como pode um povo ser tão sem curiosidade? – intrigou-se Salominho.
Resolveu
ir pessoalmente conversar com a população. Chamou alguns criados e partiu para
a praça principal do reino. Lá havia um mercado que sempre estava cheio.
Salominho
começou a se aproximar das pessoas. A princípio, elas ficaram muito assustadas,
nunca tinham visto o rei assim, tão de perto, ainda mais puxando conversa.
Salominho
interrogou um comerciante:
-
Olá, sou seu rei e gostaria de saber se o senhor tem alguma dúvida a respeito
do reino. Alguma pergunta que queira me fazer.
O
comerciante pensou, pensou e respondeu:
-
Não majestade, não tenho pergunta alguma.
-
Mas nenhuma? Tem certeza de que o senhor não quer saber nada? Dou-lhe um tempo
para pensar.
O
rei esperou pacientemente por quinze minutos. Perguntou novamente ao
comerciante. A resposta foi a mesma. Não havia nada que o homem quisesse saber.
Salominho
achou estranho, mas preferiu conversar com outra pessoa. Aproximou-se de uma
senhora que estava sentada no banco da praça, aparentemente esperando alguém.
O
rei apresentou-se e perguntou:
-
A senhora tem alguma dúvida sobre o reino? Alguma pergunta que queira fazer,
alguma curiosidade?
A resposta foi a mesma. A bondosa senhora não
queria saber nada.
O
rei levantou-se. Foi para um outro ponto da cidade. Parou em frente a um hospital.
A fila para consulta era enorme. Interpelou uma jovem mãe que aguardava
atendimento com seu filho no colo.
-
Bom dia, sou o rei Salominho. Gostaria
de saber se a senhora tem alguma pergunta a me fazer, alguma curiosidade,
alguma dúvida a respeito do reino, ou até mesmo sobre o rei?
A
jovem mãe pensou, pensou e, por fim, com a cabeça meio dolorida, respondeu:
-
Não majestade, não tenho nenhuma dúvida.
-
Mas nenhuma curiosidade? Nem mesmo quer saber por que tem de ficar tanto tempo
esperando na fila do hospital?
-
Bem, minha mãe sempre disse que a vida é assim mesmo. Pobre enfrenta fila para
tudo. Como eu sou pobre, acho que é normal ter de esperar por uma consulta. –
respondeu a jovem.
O
rei começou a ficar triste. Mas não desanimou. Visitou um dos médicos do
hospital. Apresentou-se. Logo então perguntou:
-
O senhor tem alguma dúvida a respeito do reino, do mundo, da vida, a respeito
de qualquer coisa?
Segunda parte da história amanhã (sábado)
Segunda parte da história amanhã (sábado)
Visitem o blog da Cintia http://historiainfantilcomrimas.com/
Nossa que história bacana Rute, parabéns a Cintia
ResponderExcluirCurioso, para saber o que vai dar isso ai?
ResponderExcluirLinda eu fui ao casarão e vc, não estava, estás a viajar não é mesmo?
ResponderExcluirBom descanso. beijos
Hum...parabéns a Cintia, vou visitar o blog dela
Hummm que história linda :-)
ResponderExcluirBeijos-visite-http://quadrasepensamentos.blogspot.pt/
Boa tarda Rute.
ResponderExcluirQue historia interessante. Parabéns a Cíntia. Um lindo fds.
Beijos.
Fantástico Rute!
ResponderExcluirbeijo, bom fim de semana.
http://coisasdeumavida172.blogspot.pt/
Muito bom realmente. Viajei na história e fiquei me remetendo ao lugar e a sociedade do conto. Ótima semana Rute, continue sendo esta pessoa bem sucedida. Super beijos.
ResponderExcluirE por vezes as pessoas são assim tb, ficam inertes não perguntam, não questionam, e se não perguntam nunca vão ter uma resposta.
ResponderExcluirbjokas =)
Uma bela história e muito bem escrita, gostei de ler.
ResponderExcluirUm abraço e bom fim de semana.